Trecho do livro
"Edgar Wilson está apoiado no batente da porta do
escritório do seu patrão, o fazendeiro Milo, que conclui
um telefonema aos berros, desde cedo aprendeu a berrar,
quando solto no pasto, ainda bem menino, disputava
com o bezerro a teta da vaca. O escritório não passa de
um cômodo espremido ao lado do setor de bucharia do
matadouro.
— O senhor queria falar comigo?
— Quero sim, Edgar.
— Pois não — diz Edgar Wilson, que tira o boné da cabeça
e segura-o contra o peito respeitosamente ao entrar
no escritório.
— Preciso que você vá até a fábrica de hambúrguer
fazer uma cobrança.
— Seu Milo, quem vai abater o gado?
Milo coça a cabeça, enterrando os dedos nos fi os crespos
e embaraçados.
— Meu pessoal tá curto, Edgar. E na sua função só tem
o Luiz, mas ele agora tá supervisionando a linha de abate.
Deixa eu pensar...
Edgar Wilson permanece em silêncio enquanto aguarda
a decisão do patrão. Em sua mente não passa nenhuma
ideia, pois não é seu costume buscar soluções, a não ser
que seja solicitado.
— Hoje não tem nenhuma carga grande pra abater —
comenta Milo, pensativo.
Também não é costume de Edgar Wilson deixar de
cumprir o que pedem. Milo é um homem trabalhador,
que passa quatorze horas por dia envolvido nas atividades
do matadouro. É um patrão justo aos olhos de Edgar.
— O Zeca já abateu algumas vezes, né? — pergunta
Milo.
— É, abateu. Mas ele deixa o bicho acordado ainda. O
boi sofre muito, Seu Milo. O Zeca não tem uma pegada
boa não.
Milo olha a planilha de funcionários e suas respectivas
funções. Pensa um pouco.
— O Zeca tá na triparia agora, mas só tenho ele mesmo
— resmunga para si.
— Senhor, ele deixa o boi acordado.
— Você já disse isso, Edgar. O que eu posso fazer?
Na degola ele vai morrer mesmo — responde Milo, alterado.
Edgar permanece imperturbável, com o olhar cinzento
sobre o patrão. O telefone toca. Milo atende e pede um
instante."
A orelha do livro é assinada pelo escritor Raimundo Carrero.
Um trecho da orelha
"... aqui se unem o horror e a paixão, talvez
porque a autora tenha como sua principal qualidade
o distanciamento do texto, como se ele se construísse
sozinho, em cenas sem cenários, embora eles
apareçam, brevemente, aqui e ali, integrados à cena e
à psicologia do personagem, e não como ornamentos,
na preciosa lição do velho Graciliano Ramos."
6 comentários:
Opa, que massa. Edgar Wilson está de volta. E a capa ficou lindona.
Abs,
Victor
Ola Ana Paula, parabens pela trilogia. Li De Gados e Homens apos uma resenha no Estadao em dezembro de 2013. E logo comprei os outros livros da trilogia dos homens brutos, que devorei rapidamente. Sou atriz de cinema e estou muito impressionada com seus personagens. Procurei algum contato para trocar algumas ideias sobre sua obra.
Há algum email que possa falar?
Abraço de uma grande admiradora,
Maeve Jinkings
Ola Ana Paula, parabens pela trilogia. Li De Gados e Homens apos uma resenha no Estadao em dezembro de 2013. E logo comprei os outros livros da trilogia dos homens brutos, que devorei rapidamente. Sou atriz de cinema e estou muito impressionada com seus personagens. Procurei algum contato para trocar algumas ideias sobre sua obra.
Há algum email que possa falar?
Abraço de uma grande admiradora,
Maeve Jinkings
Ola Maeve, como vai?
O meu contato eh o email: maiatravis@gmail.com
Escreva para ele e terei um prazer imenso em conversar com voce.
Beijos,
Ana.
:-)
Forte e direto. Parabéns!
Tao bom quanto Marçal Aquino em Famílias Terrivelmente felizes.
Eç
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